Estou aqui para soltar o discurso que a timidez deixou entalado na garganta.
Na empresa onde trabalho, foi lançado há alguns meses um concurso, aberto a todos os colaboradores, onde todos deveriam desenvolver textos, em forma de receitas, sendo que a cada mês, um dos valores da empresa seria o ingrediente a ser utilizado na mesma. Enfim, meu interesse foi despertado, mas faltava ânimo para participar. Mas minha alma de escritora não pôde permanecer calada e quando chegamos ao ingrediente Trabalho em Equipe, a inspiração apareceu para uma visita e eu deixei fluir. Fiz lá meu textinho humilde, só para dizer que fiz e pronto. Eis que um dia, estou lá voltando pra casa no ônibus e recebo uma mensagem, dizendo que quem ganhou a receita do mês fui eu. De princípio, não acreditei, achei que era brincadeira e assim segui, até ver meu nome lá na TV do refeitório. Fiquei muito feliz, não esperava que fosse ganhar, recebi muitos elogios e a vida seguiu.
O concurso continuou e chegamos ao mês passado, onde o ingrediente foi Ética. tema difícil, polêmico, complicado de abordar. E lá estava ela novamente, a inspiração, rondando, querendo voltar para mim. E ela voltou. E eu escrevi uma receita enorme, cheia de palavras difíceis, tirei do fundo da alma tudo que eu achava que tinha a ver com ética, fiz de uma receita praticamente um discurso político. Escrevi. Entreguei. E ganhei. De novo.
Poucas pessoas sabem, mas no fim do ano passado aos primeiros meses deste ano, passei por momentos muito difíceis. Coisas que eu nunca imaginei que fossem acontecer. Fiquei afastada do trabalho, fiquei sem forças, trabalhei na primeira semana do ano, sei lá como, pela força de Deus, porque era um minuto no caixa e 5 no banheiro chorando. Uma vida que eu achei que ia ser para sempre desmoronou na minha cabeça de uma maneira que nem nos meus delírios mais loucos eu conseguiria imaginar; a sombra de uma depressão tomou conta de mim e eu me perdi num abismo escuro que eu achei que nunca fosse ter fim.
Escrever para mim é uma necessidade física, faz parte do que eu sou, faz parte de mim como eu me conheço. E nem isso eu estava mais conseguindo fazer. Passei noites em claro, chorando, achando que essa dor nunca mais ia ter fim.
Para quem observa de fora, pode parecer só um concurso bobo de empresa, um preminho de 100 reais. Mas para mim significa tanta coisa que apenas 100 reais não podem pagar. Hoje estou aqui para agradecer à pessoa que teve essa ideia. Porque ela, indiretamente me trouxe de volta para mim. Hoje, depois de muito tempo, posso dizer que olho no espelho e voltei a me reconhecer no reflexo. Ganhar o prêmio do Trabalho em Equipe já me deu aquela levantada de astral que eu precisava, quase como se tivesse uma voz me dizendo:"Ei, olha você aí de novo! Que saudade!". E ganhar novamente esse prêmio, agora com a Ética, foi a confirmação de que sim, eu estou de volta. Eu tô aqui e toda aquela escuridão que tava pairando sobre a minha vida, tá indo embora, cada vez mais longe. Escrever, para mim, é tão essencial quanto respirar e esse concurso era a injeção de ânimo que eu precisava pra acordar de novo pra minha própria vida, para meu recomeço, para meu reencontro.
Ler a minha receita na frente de todo mundo (tremendo mais que vara verde, diga-se de passagem) e ver que realmente tava boa, que realmente gostaram do meu texto, ver os colegas me aplaudindo, ver os gerentes me elogiando, as meninas do RH dizendo que tinham até uma parte preferida no texto; ver uma pessoa que eu admiro, que foi a pessoa que me deu a oportunidade quando eu precisei, ver essa pessoa dizer que é meu fã número um, gente, isso vale tanto para mim, que eu não sei que palavra utilizar para descrever esse sentimento. Eu jamais iria conseguir falar isso tudo na frente de todo mundo, então fica aqui registrado da melhor forma que eu sei fazer: escrevendo.
Obrigada pessoa que inventou esse concurso; obrigada a todos que torceram por mim, que me incentivaram, que cutucaram a minha alma de escritora para ela voltar à tona.
EU ESTOU DE VOLTA.
Os 100 reais ajudam, e muito, com toda a certeza. Mas não tem prêmio maior para mim nesse momento do que olhar no espelho e me reconhecer; do que vestir-me de mim mesma novamente e me sentir bem com isso.
Eu voltei. E não quero nunca mais ir embora de novo.