Me lembro de ser uma garotinha e, por incrível que pareça, eu era a líder. Eu era tão segura e corajosa! Gostava mais da companhia dos meninos, queria fazer judô ao invés de balé, odiava gente que achava que sabia mais do que eu, ou que me tratava como se eu fosse boba, não gostava de tirar fotos, tinha ciúme do meu namoradinho, pregava peças nos meus irmãos mais novos...
Eu era tão segura, tão autêntica! Não tinha medo de fazer o que dava na telha, não escondia o que sentia, não me deixava ser contrariada - pelo menos não tão facilmente - e fazia birra se fosse preciso. Eu era tão segura, tão segura, que cheguei a achar que eu era imune. Que nada ia me mudar.
Me pergunto onde foi parar toda essa coragem agora? Para onde foi aquela garotinha levando a minha autenticidade com ela? Por que crescer muda tanta coisa?
Tem hora que simplesmente só dá vontade de sentar e chorar. Chorar, chorar, chorar e chorar. Há momentos em que a gente não quer ser "gente grande". A gente não quer encarar os "fatos da vida" com maturidade. A gente não quer ter a obrigação de tomar uma decisão.
Tem hora que a gente quer se dar o direito de fazer uma birra. de espernear porque o mundo contrariou nossa vontade. Porque a gente queria uma coisa que o papai e a mamãe não deram. Porque a gente não quer trocar o chocolate pelo alface porque é mais saudável. Porque a gente gosta de que não merece. E por um monte de outros porquês.
Nessas horas a gente só quer chorar um pouquinho. Ou um montão. Quem disse que é proibido? Encolher num cantinho, abraçando os joelhos em silêncio ou escandalosamente gritando e quebrando tudo o que tiver pela frente.
Tem hora que não dá pra ser gente grande. E nessa hora, a gente só quer colo. Por mais ridículo que possa ser, a gente também quer um colinho de vez em quando. Colinho de alguém que nos acalente e faça tudo de ruim sumir com a mágica de uma canção de ninar. Alguém que nos convença num abraço de amor que realmente tudo vai ficar bem.
É nessa hora que sinto mais falta da minha avó.
"BICHO PAPÃO
SAI DE CIMA DO TELHADO
E DEIXA O MEU NENÉM
DORMIR SOSSEGADO..."