Hoje você veio e tomou conta. Simples assim. Chegou e tomou posse, como se tudo aquilo que desprezou uma vez, ainda fosse seu.
Pegou meu coração com uma de suas mãos frias e ficou espremendo, até que ele ficasse bem comprimido, apertado, causando esse incômodo no peito, que me fez ficar sem ar.
Pegou a minha mente e bagunçou as gavetas, trazendo à tona todas aquelas lembranças que eu tinha escondido no fundo do armário para nunca mais lembrar.
Me fez ver na TV cenas parecidas com as nossas, só para dar saudade daquela criatura doce e gentil que um dia você foi.
Pegou os meus olhos e jogou areia neles, para que eles colocassem para fora as lágrimas que eu tinha engolido. Claro que isso envolve o que você fez com meu estômago: reviveu as borboletas que sobrevoavam as cinzas da esperança que você atirou no fogo e as fez subirem pela garganta até me dar enjoo.
E foi fazendo isso com cada pedaço de mim que estava a seu alcance.
Como se fosse fácil assim. Como se fosse simples. Chegar aqui e tomar posse do território outra vez.
Pegar de volta o abrigo do meu abraço, a proteção do meu coração.
Como se aqui fosse terra de ninguém e você pudesse voltar de repente e fincar sua bandeira.
Não é bem assim que a banda toca...
Troquei o disco.
Virei a página.
Te joguei no fundo de uma gaveta porque é lá que você tem que ficar.
Vou consertar a fresta na porta por onde o vento entrou hoje.
Vou trocar as fechaduras.
Ainda que o teu vento insista em entrar pelas frestas:
Aqui não tem mais espaço para você.
Dói no coração as vezes que eu lembrar te amo e não quero te amar...
(Sandra de Sá - Retratos e Canções)
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