Tá tudo de ponta cabeça. São tantas coisas sobre as quais escrever que nem sei por onde começo. O abandono do blog retrata bem essa questão. É tanta coisa que eu quero falar , tanto a botar para fora que me embaralho e acabo guardando tudo comigo.
Quando você acha que está indo tudo bem, vem uma avalanche e tudo desmorona. O que estava quebrado se arrebenta e o que estava bom, não consegue escapar sem ao menos uma rachadura.
Minha vida está assim neste momento. tanta coisa para consertar, pra por em ordem, que me vejo correndo de um lado para o outro sem saber o que fazer.
Há coisas a fazer por mim mesma e eu não faço porque há coisas para fazer por quem amo e eu não faço porque "n" fatores não permitem; por "n" razões que atrapalham; por desencontros e atropelos; falta de recursos; falta de vontade; falta de, na verdade, saber o que fazer.
Sinto falta dos meus textos, que sempre foram meu abrigo, mas neste momento conturbado, nem mesmo eles podem me proteger. Eu não sei o que dizer, não sei bem do que falar e eles acabam tão confusos quanto eu.
Sinto falta dos meus livros, porque através deles eu podia sair um pouco por aí, conhecer outros mundos, fazer viagens fantásticas por terras distantes e mágicas... Mas de que maneira vou fazer isso se não me sobra tempo para ler?
Vejo meu corpo cansado, meu rosto cansado e até mesmo meu riso se cansou. Essa "vida de adulto" corrida está me roubando a preciosidade da minha criança interior. Se antes ela se sobrepunha e exalava brilho, juventude, inocência e alegria de viver, hoje está com medo, encolhida num cantinho, debaixo das cobertas, esperando a tempestade passar.
Eu não sei o que fazer para tirar essa garotinha de lá. preciso dela para enfrentar tudo isso, mas tenho tanto medo quanto ela.
Medo da verdade, medo do imprevisto, do desconhecido, do futuro, do que vem por aí, do que é, do que já foi. Medo de crescer e perder o caminho à direita da estrela mais brilhante.
É muito medo para pouca solução.
Como endireitar um mundo que virou de repente de ponta cabeça?
Será que se eu for para o outro lado do mundo, consigo fazer as coisas ficarem outra vez de pé?
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
(Roda Viva - Chico Buarque)