sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Copa do Mundo é Nossa. Tá, mas e aí?



Eu não ia falar nada não. Mas não dá. E como eu sei que o texto vai ficar grande demais pro Facebook vou postar aqui. É, tô falando da Copa sim. Não pude evitar.
Pra falar bem a verdade, eu não tava muito animada – e ainda não estou - com essa copa não. Falei que não ia torcer, critiquei e continuo criticando a forma como tudo foi feito. O fato de que o país tem problemas gritantes e diz-se que não há dinheiro suficiente para resolver, mas que para construir estádios com custos astronômicos, o dinheiro surgiu rapidinho.
Então vamos falar do que concordo e discordo.
Que a copa é um grande acontecimento que pode trazer benefícios e colocar nosso país em evidência. Concordo. Qual país não gostaria de ter as atenções do mundo voltadas para si, aproveitando a oportunidade de trazer estrangeiros, o que vai gerar dinheiro, oportunidades de negócios, interesse de empresas se instalarem no país criando novos empregos e sei lá mais o que. OK.
Ao mesmo tempo, será que não deu para perceber que nosso país não tem estrutura para isso? A gente não tem saúde, o trânsito é caótico, os meios de transporte não são suficientes. Ontem mesmo fui marcar uma consulta para mim e só tem para daqui a dois meses com um clínico geral!!! Eu não tenho dinheiro para pagar particular. Dependo dessa m... que faz com a gente o que quer. Aí a gente morre e não sabe nem porque.
Outro ponto: que vivemos numa democracia e todo mundo tem direito de protestar e lutar por aquilo que acha justo. Concordo. A gente não tá mais na ditadura – graças a Deus. Somos livres para pensar, para expressar nossas opiniões, para vivermos do jeito que queremos. Isso tudo, dentro da lei.
A partir do momento que se sai por aí com uma máscara na cara, quebrando tudo que vê pela frente, jogando bomba, botando fogo nas coisas das pessoas, assaltando turistas, prejudicando inocentes, aí deixa de ser protesto e vira baderna. Vira crime. Será que não dá para perceber que quem vai pagar por toda essa m... depois é a gente?
O cara vai lá, depreda o banco, faz greve de metrô, queima busão, assalta loja, rouba o carro dos outros, põe fogo nas avenidas e aí? Depois dos protestos, os “caras” sobem em seus jatinhos e voltam para sua vida de luxo e riqueza e quem fica sem transporte, sem saída, sem locomoção? Você. O mesmo idiota que saiu quebrando tudo por aí. E o pior, prejudica teus colegas de profissão, teus colegas de situação, teu vizinho, teu amigo, a faxineira que depende do busão, o operário que depende do metrô. Gente como a gente, que trabalha suado para tirar uns trocados no fim do mês e sustentar uma família que, na grande maioria das vezes, depende daquele trocadinho suado – e insuficiente - para viver. Quebrar tudo mudou alguma coisa na vida dos caras lá? Eu acho que não. Mas que faltou pão na mesa do seu Zé e da dona Maria por causa daquele dia em que eles não puderam ir trabalhar, ah isso faltou.
E falar o quê do dia de hoje? Mais protestos sem sentido. Até a hora que eu vi, estavam tentando explodir um posto de gasolina. Me fala, para quê? Duas repórteres da CNN feridas. O cara vai lá no Iraque cobrir a guerra e volta inteiro, vem pro Brasil cobrir a Copa e sai machucado? Cara, como assim? E essa abertura? Contratar uma belga para falar da cultura do Brasil? Deixasse na mão dos carnavalescos, que fazem em todos os fevereiros um espetáculo muito mais bonito do que essa apresentação que até minhas dancinhas no prezinho deixaram no chão. (Tenho fotos para provar!). Isso só mostrou ao mundo que não há ninguém no Brasil apto a retratar a cultura nacional. Tivemos que buscar um estrangeira para fazer uma apresentação sobre nós. Ridículo.
E o que dizer dessa musiquinha da Copa, sem letra, sem música, sem nexo? A Shakira gravou uma que só fala lá lá lá pra um comercial de TV e derrubou esse “Hino da Copa” na hora! Queremos Shakira já! Se é para ser patriota, para quê chamar dois estrangeiros para cantar na abertura e esconder a brasileira? E outra, Claudia Leite, minha gente? Fala sério! Pusesse um show do Capital Inicial ali e o sucesso tava garantido. Ou pelo menos a Ivete que tem mais carisma e mais projeção internacional. Mas Claudia Leite? Ah vá, né. Fora as vaias da torcida para a seleção da Croácia que entrou em campo para se aquecer. Baita falta de educação.
E o tal do exoesqueleto? Ia ser um marco da abertura da Copa! Foi anunciado com grandes louvores: um garoto paraplégico, ia caminhar até a bola e dar o pontapé inicial da Copa. E cadê? O que se viu, na verdade o que não se viu, foi o pobre do garoto escondido num canto sem câmeras do estádio, encostando a ponta do pé numa bola que logo outro garoto pegou e saiu correndo com ela. Hein?
Esses fatos se juntam para aumentar a vergonha que dá de ser brasileiro nessa hora. De saber que o mundo inteiro tá vendo essas coisas ridículas, esses protestos descontrolados, repórteres feridos, desordem, desrespeito, violência, falta de educação. Só ressalta a opinião de todos lá de fora que aqui no Brasil só tem selvagens. E diante de toda essa bagatela, como que a gente vai argumentar?
Mas eu preciso dizer, que na hora do jogo, a emoção tomou conta de mim. Ouvir a torcida e os jogadores unidos, cantando o hino nacional mais bonito de todos – que é o nosso – me deu um arrepio, subiu uma emoção que eu nem sei explicar. Quando vi, já estava tomada pela alegria contagiante de ser torcedora. De ser uma amante do futebol, torcendo por seu país. Tá vendo? Eu não sou imune.
Mas isso não faz de mim uma hipócrita. Não é porque o Brasil ganhou que eu vou esquecer que eu não tenho o médico que eu preciso. Não é porque eu torci pro Brasil e vibrei e gritei que me tornei uma traidora das ideologias contra a Copa. Não é porque eu assisti ao jogo e vibrei com a vitória do Brasil, que eu vou deixar de lado o fato de que o país está um caos. Não!
Eu sou brasileira, AMO meu país, acho que perto de uns e outros a gente vive num país privilegiado e o defendo com unhas e dentes daqueles que nos fazem acusações injustas.
Mas eu também sou inteligente demais para não enxergar os problemas. Para não ver essa clara situação de “pão e circo” que se apresenta. De não ver guerrinha política inútil por trás disso tudo. De não ver que tem gente aproveitando os protestos para se aparecer. Eu tenho um cérebro e ele funciona, sabe? E não é porque eu torci pela minha seleção, que meu cérebro deixou de funcionar. Eu continuo precisando do meu médico. A dona Maria continua dependendo do busão. O seu Zé ainda precisa do metrô. Ainda acho que você que quebra tudo por aí é um idiota.
Não quero saber se a culpa é da lula, do tubarão, da arraia ou do seu Siriguejo. Quero que meu país cresça. Quero que a gente evolua. Quero que o Brasil ganhe a Copa, mas quero meu médico, quero metrô, quero busão, quero escola, quero salário digno. Mas quero, acima de tudo,  que os brasileiros aprendam a ser patriotas muito além do hino nacional.