segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Momento Insano





E foi assim que por um momento insano, no meio de tanta loucura,
desejei que você existisse.
Ali, no meio de toda a tormenta, de toda a dor e incerteza, quis te sentir de verdade, quis que se fizesse matéria,
como uma sobra, um resquício de um amor dilacerado.
Quis olhar teus olhos, sentir teu toque, a tua pele, como a prova viva de que tudo aquilo não foi só uma mentira, não foi em vão...
Em meios às lágrimas imaginei teu rosto... teu jeito... teu nome...
Mesmo com muito medo e com muita incerteza, por um mínimo segundo de insanidade, eu desejei que você estivesse ali...
E se tivesse estado ali, hoje estaria aqui e como seriam as coisas?
Será que minha visão do mundo teria mudado?
Qual seria o sentimento?
Aceitação? Rejeição? Resignação?
Não sei... Mas tanto tempo depois eu só consigo pensar
que naquele nano segundo de momento insano eu desejei que você fosse real.
E isso, por si só, já mudou muita coisa aqui dentro de mim... 

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Bird Box

 


Tem hora que me sinto dentro do "Bird Box", aquele livro/filme onde todo mundo surta e começa a morrer ou se matar porque vê alguma criatura maligna que faz com que isso aconteça. É tanto crime, tanta violência, tanta gente morrendo e se matando e matando uns aos outros, que parece que o filme se tornou real.
Eu moro numa cidade do interior, onde praticamente todo mundo conhece todo mundo. Mal nos recuperamos de um feminicídio brutal ocorrido há pouco tempo e hoje, o assunto corriqueiro é mais um assassinato brutal de uma mulher. Mais um homem, inconformado com o fim de um relacionamento, pôs fim à vida da mulher que não queria mais estar com ele. E aí é que me pergunto: que merda é essa? Que porcaria de mundo é esse, onde uma pessoa não pode escolher com quem quer ficar porque a pessoa vai lá e mata ela? que tipo de "homem" é esse que vem sendo construído? Cadê homem de verdade?
Essa cultura do "macho" tem que ser eliminada. Quantas mulheres mais terão que morrer para que se perceba o quanto o machismo é tóxico, é prejudicial, é criminoso?
Para com essa história de "cê tem que sê homi! dá uma lição nessa muié!". Coisa nojenta, ridícula, ultrapassada! Estamos no século 21 e essa cultura de macho escroto tem que parar! Tem que deixar de existir! Essas coisas já não se encaixam no cenário atual! Acorda pra vida, cara! A mulher não é sua propriedade! Se ela não quer mais ficar com você, segue sua vida, vai atrás de quem te queira! Mas se você que ela de volta, lute por ela, se torne um ser humano melhor, mude de atitude, mostre para ela algo que valha a pena! Mas não, é mais fácil ir lá e meter o facão; pegar uma arma e encher a mulher de tiro. Assim se resolvem as coisas hoje em dia. É o fim mesmo!
Aqui no Bird Box da vida real, diferentemente da ficção, as criaturas são bem visíveis: são aquele vizinho da casa da esquina; o amigo de infância da prima: o cunhado da dona Maria da lojinha; o avô, o pai, o irmão, o filho de alguém; aquele amigão de todo mundo que "jamais faria isso". Gente que a gente nem imagina, que por falta de raciocínio, resolve as coisas com tiros ao invés de seguir em frente ou dialogar para buscar uma solução melhor.
Quando eu era criança e passava os dias assistindo Scooby-Doo, mal sabia eu a mensagem subliminar que aquele desenho carregava. Ao tirar a máscara do bicho papão da vez, nos era revelado que os piores monstros que existem são os seres humanos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Discurso! Discurso! Discurso!

 
 
Estou aqui para soltar o discurso que a timidez deixou entalado na garganta.
Na empresa onde trabalho, foi lançado há alguns meses um concurso, aberto a todos os colaboradores, onde todos deveriam desenvolver textos, em forma de receitas, sendo que a cada mês, um dos valores da empresa seria o ingrediente a ser utilizado na mesma. Enfim, meu interesse foi despertado, mas faltava ânimo para participar. Mas minha alma de escritora não pôde permanecer calada e quando chegamos ao ingrediente Trabalho em Equipe, a inspiração apareceu para uma visita e eu deixei fluir. Fiz lá meu textinho humilde, só para dizer que fiz e pronto. Eis que um dia, estou lá voltando pra casa no ônibus e recebo uma mensagem, dizendo que quem ganhou a receita do mês fui eu. De princípio, não acreditei, achei que era brincadeira e assim segui, até ver meu nome lá na TV do refeitório. Fiquei muito feliz, não esperava que fosse ganhar, recebi muitos elogios e a vida seguiu.
O concurso continuou e chegamos ao mês passado, onde o ingrediente foi Ética. tema difícil, polêmico, complicado de abordar. E lá estava ela novamente, a inspiração, rondando, querendo voltar para mim. E ela voltou. E eu escrevi uma receita enorme, cheia de palavras difíceis, tirei do fundo da alma tudo que eu achava que tinha a ver com ética, fiz de uma receita praticamente um discurso político. Escrevi. Entreguei. E ganhei. De novo.
Poucas pessoas sabem, mas no fim do ano passado aos primeiros meses deste ano, passei por momentos muito difíceis. Coisas que eu nunca imaginei que fossem acontecer. Fiquei afastada do trabalho, fiquei sem forças, trabalhei na primeira semana do ano, sei lá como, pela força de Deus, porque era um minuto no caixa e 5 no banheiro chorando. Uma vida que eu achei que ia ser para sempre desmoronou na minha cabeça de uma maneira que nem nos meus delírios mais loucos eu conseguiria imaginar; a sombra de uma depressão tomou conta de mim e eu me perdi num abismo escuro que eu achei que nunca fosse ter fim.
Escrever para mim é uma necessidade física, faz parte do que eu sou, faz parte de mim como eu me conheço. E nem isso eu estava mais conseguindo fazer. Passei noites em claro, chorando, achando que essa dor nunca mais ia ter fim.
Para quem observa de fora, pode parecer só um concurso bobo de empresa, um preminho de 100 reais. Mas para mim significa tanta coisa que apenas 100 reais não podem pagar. Hoje estou aqui para agradecer à pessoa que teve essa ideia. Porque ela, indiretamente me trouxe de volta para mim. Hoje, depois de muito tempo, posso dizer que olho no espelho e voltei a me reconhecer no reflexo. Ganhar o prêmio do Trabalho em Equipe já me deu aquela levantada de astral que eu precisava, quase como se tivesse uma voz me dizendo:"Ei, olha você aí de novo! Que saudade!". E ganhar novamente esse prêmio, agora com a Ética, foi a confirmação de que sim, eu estou de volta. Eu tô aqui e toda aquela escuridão que tava pairando sobre a minha vida, tá indo embora, cada vez mais longe. Escrever, para mim, é tão essencial quanto respirar e esse concurso era a injeção de ânimo que eu precisava pra acordar de novo pra minha própria vida, para meu recomeço, para meu reencontro.
Ler a minha receita na frente de todo mundo (tremendo mais que vara verde, diga-se de passagem) e ver que realmente tava boa, que realmente gostaram do meu texto, ver os colegas me aplaudindo, ver os gerentes me elogiando, as meninas do RH dizendo que tinham até uma parte preferida no texto; ver uma pessoa que eu admiro, que foi a pessoa que me deu a oportunidade quando eu precisei, ver essa pessoa dizer que é meu fã número um, gente, isso vale tanto para mim, que eu não sei que palavra utilizar para descrever esse sentimento. Eu jamais iria conseguir falar isso tudo na frente de todo mundo, então fica aqui registrado da melhor forma que eu sei fazer: escrevendo.
Obrigada pessoa que inventou esse concurso; obrigada a todos que torceram por mim, que me incentivaram, que cutucaram a minha alma de escritora para ela voltar à tona.
EU ESTOU DE VOLTA.
Os 100 reais ajudam, e muito, com toda a certeza. Mas não tem prêmio maior para mim nesse momento do que olhar no espelho e me reconhecer; do que vestir-me de mim mesma novamente e me sentir bem com isso.
Eu voltei. E não quero nunca mais ir embora de novo.
 
 
 
 

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Por Enquanto


Fonte: Catraca Livre


Levantar da cama todos os dias, tem exigido um esforço enorme da minha parte. Conversar, interagir com as pessoas, tem sido uma coisa extremamente difícil. É como se não fosse natural para mim, fazer isso. Chega no final do dia estou exausta. Exausta por ter que fingir o tempo todo que tudo está bem, quando na verdade, meu mundo está em destroços que não param de desmoronar. Exausta por ter que ficar sorrindo , quando na verdade tudo o que eu quero é chorar. Chorar copiosamente até sentir que o coração tá limpo de novo. Mais leve. Chorar até sentir brotar um sorriso genuíno no meu rosto outra vez. exausta de ter que explicar para as pessoas que eu ainda preciso de mais tempo. 
Quem me vê assim sorrindo, não sabe as batalhas que eu travo dentro da minha cabeça, oscilando entre pensamentos bons e ruins; entre loucura e sanidade; entre consciência e delírio. Eu ainda preciso de tempo. Para curar as feridas. Ainda tá tudo aberto demais. Em carne viva. Sangrando. Se o tempo é o melhor remédio, então eu preciso aumentar a dose. Cinco meses é um bom tempo, mas ainda não é o suficiente. Talvez eu precise de dez. De vinte. De trinta. Quem sabe? Só sei que preciso de mais. 

Fonte:Kickante


Estou exausta de ter que cumprir essa obrigação de "seguir em frente", que é muito bonita na teoria, mas é completamente diferente na prática. Eu não consigo seguir em frente agora. Talvez amanhã. Mês que vem. Ano que vem. Mas agora não. Agora eu preciso de cura. Preciso de paz. De sossego. Preciso chorar. Dormir o dia todo. Preciso de um lambeijo bem dado dos meus cachorros. Preciso dos meus amigos. De um abraço bem apertado. Da minha família. Preciso me reencontrar. 
Estou exausta de tanta necessidade, de tanta contradição. Preciso de um botão de desligar. Uma borracha para apagar coisas que só eu vi, coisas que só eu sei e que não quero mais saber. Preciso de água para apagar a chama insistente da esperança que me faz desejar um milagre que nunca vai acontecer. Preciso de um coração novo, recomposto. De uma memória nova, resetada. para ter espaço de armazenamento para novos arquivos. Preciso jogar fora todo o lixo que ficou.
Quando eu tiver tudo isso, talvez eu já não fique mais tão exausta. Talvez eu já não pareça mais tão triste. Talvez eu pare de incomodar com meu estresse e amargura. E quem sabe, finalmente, eu siga em frente.
Mas por enquanto, não.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Fazer Amor



Quando você diz a uma mulher que você quer fazer amor com ela, será que você sabe a magnitude e o significado do que você está falando?
Sexo você consegue ali na esquina. Qualquer piriguete de balada tem isso para te oferecer em troca de uma cerveja gelada e uma cantada barata. Mas amor? Ah, amor meu amigo, você não acha fácil desse jeito não. 
Amor era aquele bom dia que ela te mandava no whatsapp de manhã. Era o café fresquinho que ela fazia e deixava pronto para você tomar quando chegava do serviço. O amor era aquela plaquinha de "Lar Doce Lar", pendurada acima da porta.
Amor era o bilhetinho pendurado na porta da geladeira, era sua parte do guarda roupa toda organizada, eram as fotos espalhadas pela casa refletindo a alegria de um casal.



O amor era o guarda chuva gigante que ela comprou para você. O jogo de escumadeiras que ela te deu no Natal. A churrasqueira que ela te deu no seu aniversário. 
O amor era aquele dia de folga preguiçoso, onde fazer nada era a melhor opção. Era aquele domingo de futebol e pipoca. Era aquele sábado de comprar lanche por preguiça mútua de fazer comida.
O amor era aquele miojo "especialidade da casa" que ela fazia para você comer na cumbuca laranja da loja de 1 real. Era o abrir dos olhos de manhã e a feliz constatação da sua presença ao lado. Era o geladão de leite condensado do tiozinho da esquina naquele dia de calor insuportável.



O amor eram aqueles planos e sonhos que nunca saíram do papel. A desejada viagem a dois; a moto que estava pensando em comprar; a casa própria que talvez um dia chegasse a conquistar. 



O amor eram aqueles dois filhotinhos lindos que você adotou, que faziam festa quando te viam chegar. Era o pão com manteiga no café da manhã. O arroz com ovo no almoço. O feijão que você fazia porque ela tinha medo da panela de pressão.



O Amor era aquela coisa chata do dia a dia. Aquela monotonia de chegar do trabalho - fazer comida - limpar a casa - lavar a roupa - acordar - ir trabalhar - chegar cansado de novo -  fazer comida de novo e assim sucessivamente.
Enfim, era aquela coisa igual, repetida, que você tinha todo dia.
Era imenso, mas você deixou de enxergar.
Era luz, mas você se escondeu na escuridão.
Era cada sorriso, cada olhar, cada beijo da mesma pessoa todos os dias; a união de dois corpos, mas mais do que isso, a união e entrega de duas almas e dois corações.



Pois é meu amigo, fazer amor é uma coisa poderosa demais para você querer resumir num ato carnal a fim de obter prazer. Fazer amor é a satisfação da alma, é o prazer sentido no coração.
Foi essa coisa chata, monótona e repetitiva que você botou para correr pela porta afora.
Agora você aí onde está, vai ter bastante tempo  para poder pensar na seguinte questão: quando chamar uma mulher para "fazer amor" com você, será que é mesmo amor que você vai estar fazendo?