quarta-feira, 28 de março de 2012

SUÍTE PRESIDENCIAL


Ah, quer saber de uma coisa? Cansei!
Cansei de me desculpar por coisas que eu não fiz, por erros que eu não cometi. Cansei de pagar e sofrer por não fazer nada. A gente aguenta em silêncio até onde dá. Só que chega uma hora que não dá mais. E a minha hora é essa.
Não pense que a minha é uma atitude radical, pois demorei muito tempo pra chegar à conclusão de que ficar para e quieta só apanhando, não tá adiantando. Então chega.
Eu não vou mudar de atitude e publicar mil frases agradáveis porque não tenho que agradar ninguém. Eu sempre agi assim com todo mundo. Sempre tratei a todos de maneira igual. Sempre tive esse jeito desligado, distraído. Não nasci colada em ninguém e não dependo de ninguém pra ser feliz. Tenho minhas carências, mas não culpo a pessoa errada errada por elas. Não desconto nas pessoas inocentes frustrações que outros me causaram. E se me encontro a ponto de explodir por quealquer motivo, me afasto. Me tranco no meu quarto, me escondo debaixo da cama e já aviso que tô mordendo. Penso 150 milhões de vezes antes de falar alguma coisa porque sei que uma palavra mal dita pode machucar muito mais do que um soco na cara. E machuca, viu?
Não vou mudar. Sinto muito se isso incomoda, mas 99% das pessoas já sabem como eu sou e se acostumaram com meu jeito desligado. Eles não precisam de um outdoor gigante escrito "Eu Te Amo" com luzes de neon piscando pra saber que eu os amo. O que realmente importa, a gente simplesmente sabe. Não precisa ficar repetindo o tempo todo. Não precisa ligar a cada minuto do dia. Não precisa pôr no jornal para todo mundo ler. Basta guardar no coração. e ter o coração aberto pra receber o amor enviado pelo outro coração. A gente sempre sabe o que é verdadeiro. Não precisa provar. Aquilo que necessita de prova a todo instante, é fraco. Perdeu credibilidade. Fechou o canal direto coração com coração.
De minha parte, continuo aqui, do mesmo jeito. Me admira, depois de tanto tempo, eu parecer tão irreconhecível. Quando foi que me tornei tão frágil, tão fácil de ser jogada pra escanteio? E tudo por quê? Porque depois de tanto tempo enclausurada , saí do casco e resolvi dividir o meu amor. Abri vagas que foram maravilhosamente preenchidas dentro do hotel do meu coração. E no entanto, a hóspede da suíte presidencial resolveu se retirar por se incomodar com seus novos vizinhos. Depois de tanto tempo...
Eu não vou mudar. Já apanhei, já pedi desculpas por coisas que não fiz, já paguei pelas carências e vazios causados por outra pessoa. Já corri atrás, já chorei. O tempo de chorar passou. Meus olhos secaram. E triste vai ser quando a seca chegar ao coração. Não quero pensar nisso agora.
O hotel continua no mesmo lugar e a suíte presidencial ainda espera seu hóspede de portas abertas. Se ele enxergar as injustiças que comete, pode voltar. Se não quiser voltar, fecho a suíte pra sempre. Não quero falar mais nada.
O que realmente importa, a gente não precisa provar o tempo todo. Porque a gente simplesmente sabe.

Então me aceite como eu sou
Não me peça pra mudar
Essas manias que você já perdoou
Eu vou levando a vida
Eu vou tentando disfarçar
Mas vou deixar a porta do meu quarto aberta
Caso você queira voltar...
(Luka - Porta Aberta)

terça-feira, 6 de março de 2012

ESQUINAS




Às vezes me pego revivendo aquela noite como se fosse ontem. A noite estranha em que nós dois caminhávamos pela rua falando coisas do tipo “cabeça” que normalmente nos interessam e de repente, em uma das esquinas você falou algo que mudou totalmente o rumo da conversa e que me intriga até hoje.
As palavras não era exatamente estas, mas era algo do tipo. Você disse: “ Às vezes eu gosto de uma pessoa e não consigo discernir entre o amor e a amizade e eu tenho medo de, por ser a amizade grande demais, eu demonstrar e perder essa amizade que tanto prezo. Então por medo e por não saber diferir um sentimento do outro, eu gosto; mas não demonstro. E aí a pessoa acaba pensando que eu não gosto dela.”
O que eu exatamente deveria ter feito naquela hora? Eu ali, completamente apaixonada por você e escutando tudo isso? Deveria ter pulado no seu pescoço e dito: “Demonstra agora!” e te tascado um beijo? Deveria ter dito que sou exatamente do mesmo jeito e que por isso escondi o meu amor por você? Deveria ter feito meu papel de melhor amiga e dito: “ Vai fundo, conta pra ela”, mesmo sabendo que só de pensar que existia alguém na sua vida isso ia me destroçar por dentro? Deveria ter perguntado: “Por que você tá falando isso agora? Ou melhor, por que você tá falando isso para mim?” – que era o que eu tava morrendo de vontade de fazer? Deveria ter parado e tentado ler alguma coisa não dita nos teus olhos? Deveria ter arriscado a amizade em nome da pequena luz de esperança de amor correspondido que pareceu se acender dentro do meu coração? O que eu deveria ter feito? Me diz?
Um bom tempo se passou desde aquele dia. Tanta coisa mudou, sentimentos mudaram, mas aquela noite ainda volta para me atormentar. E povoa meus sonhos, toma meus pensamentos, bagunça minha mente, revira meu coração e materializa-se nos meus escritos.
Eu fecho os olhos e ali estamos nós dois pelas esquinas: sua voz se torna clara como se você estivesse presente e eu escuto tudo novamente. Milhares de possibilidades do que eu poderia ter feito me passam pela mente e aí eu me lembro do que eu fiz. Engoli em seco, atônita demais para reagir; com medo de me machucar de novo, empurrei a pequena luz de esperança bem lá pro fundo do meu coração e me calei. No máximo resmunguei um “hum”, que geralmente é o que a gente fala quando não sabe o que dizer. E em silêncio continuamos andando, como se o mundo não tivesse acabado de desabar sobre a minha cabeça, como se meu coração não estivesse prestes a saltar do peito enquanto eu continuava ali impassível, bem do seu lado.
O que você quis dizer com aquilo e de quem você estava falando, até hoje eu não sei. De qualquer forma, hoje é melhor não saber, pois já é tarde demais.
Não sei em qual das esquinas dessa vida eu perdi a minha chance, mas se eu fosse questionada a respeito disso, responderia que existe uma possibilidade de quase 100% de que tenha sido nesta. Pois é... Perdi...
Há coisas que eu não consigo explicar: o meu medo de perder é tão grande, mas tão grande, que as coisas acabam acontecendo enquanto eu fico na platéia. E quando o espetáculo chega ao fim e eu percebo que não gostei do final, é que eu me dou conta de que, de um jeito ou de outro, quanto mais eu me protejo, mais eu acabo perdendo.
E isso, junto com tudo o que aconteceu naquela noite, não faz o menor sentido.


“(...) Meu caminho é meio perdido
Mas que perder seja o melhor destino (...)
Quando você chamar meu nome
Eu que também não sei aonde estou
Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for
Eu só quero saber em qual rua a minha vida
Vai encostar na tua...
(Ana Carolina – Encostar na Tua)