Às vezes me pego revivendo aquela noite como se fosse ontem. A noite estranha em que nós dois caminhávamos pela rua falando coisas do tipo “cabeça” que normalmente nos interessam e de repente, em uma das esquinas você falou algo que mudou totalmente o rumo da conversa e que me intriga até hoje.
As palavras não era exatamente estas, mas era algo do tipo. Você disse: “ Às vezes eu gosto de uma pessoa e não consigo discernir entre o amor e a amizade e eu tenho medo de, por ser a amizade grande demais, eu demonstrar e perder essa amizade que tanto prezo. Então por medo e por não saber diferir um sentimento do outro, eu gosto; mas não demonstro. E aí a pessoa acaba pensando que eu não gosto dela.”
O que eu exatamente deveria ter feito naquela hora? Eu ali, completamente apaixonada por você e escutando tudo isso? Deveria ter pulado no seu pescoço e dito: “Demonstra agora!” e te tascado um beijo? Deveria ter dito que sou exatamente do mesmo jeito e que por isso escondi o meu amor por você? Deveria ter feito meu papel de melhor amiga e dito: “ Vai fundo, conta pra ela”, mesmo sabendo que só de pensar que existia alguém na sua vida isso ia me destroçar por dentro? Deveria ter perguntado: “Por que você tá falando isso agora? Ou melhor, por que você tá falando isso para mim?” – que era o que eu tava morrendo de vontade de fazer? Deveria ter parado e tentado ler alguma coisa não dita nos teus olhos? Deveria ter arriscado a amizade em nome da pequena luz de esperança de amor correspondido que pareceu se acender dentro do meu coração? O que eu deveria ter feito? Me diz?
Um bom tempo se passou desde aquele dia. Tanta coisa mudou, sentimentos mudaram, mas aquela noite ainda volta para me atormentar. E povoa meus sonhos, toma meus pensamentos, bagunça minha mente, revira meu coração e materializa-se nos meus escritos.
Eu fecho os olhos e ali estamos nós dois pelas esquinas: sua voz se torna clara como se você estivesse presente e eu escuto tudo novamente. Milhares de possibilidades do que eu poderia ter feito me passam pela mente e aí eu me lembro do que eu fiz. Engoli em seco, atônita demais para reagir; com medo de me machucar de novo, empurrei a pequena luz de esperança bem lá pro fundo do meu coração e me calei. No máximo resmunguei um “hum”, que geralmente é o que a gente fala quando não sabe o que dizer. E em silêncio continuamos andando, como se o mundo não tivesse acabado de desabar sobre a minha cabeça, como se meu coração não estivesse prestes a saltar do peito enquanto eu continuava ali impassível, bem do seu lado.
O que você quis dizer com aquilo e de quem você estava falando, até hoje eu não sei. De qualquer forma, hoje é melhor não saber, pois já é tarde demais.
Não sei em qual das esquinas dessa vida eu perdi a minha chance, mas se eu fosse questionada a respeito disso, responderia que existe uma possibilidade de quase 100% de que tenha sido nesta. Pois é... Perdi...
Há coisas que eu não consigo explicar: o meu medo de perder é tão grande, mas tão grande, que as coisas acabam acontecendo enquanto eu fico na platéia. E quando o espetáculo chega ao fim e eu percebo que não gostei do final, é que eu me dou conta de que, de um jeito ou de outro, quanto mais eu me protejo, mais eu acabo perdendo.
E isso, junto com tudo o que aconteceu naquela noite, não faz o menor sentido.
“(...) Meu caminho é meio perdido
Mas que perder seja o melhor destino (...)
Quando você chamar meu nome
Eu que também não sei aonde estou
Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for
Eu só quero saber em qual rua a minha vida
Vai encostar na tua...
(Ana Carolina – Encostar na Tua)
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