sexta-feira, 8 de junho de 2012

A CAIXA DE PANDORA

Por que será que a perfeição anda precisando tanto se afirmar? É tanto anúncio, tanta cantoria, que chega a despertar desconfiança... Há algo de podre no reino da perfeição... Deve haver alguma interferência, algum tipo de desvio que antes não existia... Por que, logo agora, essa necessidade explícita de afirmação? É tanta declamação pra lá e pra cá... E por que, se antes não existia???
É porque ele não está mais inteiro por aí, não é? Está mais distante, mais absorto... Muito além de qualquer lugar onde você possa chegar. E por não conseguir acessar esse lugar distante, você grita, você afirma e estampa, numa tentativa inútil de fazer ele te deixar entrar... Mas você não entra, não é?
Isso é porque você não tem a chave da Caixa de Pandora. A chave que abre esse lugar inacessível que quando alguém consegue finalmente abrir é pego no flagra, escorraçado e atirado ao longe, para além da ignorância. E após ser expulso, o lugar torna-se quase tão inacessível quanto era antes de se ter encontrado a chave.
Uma vez encontrada essa chave e aberta essa porta, encontra-se um mundo para além daquele que é visível. O mundo que vai além da fachada. Encontram-se segredos, medos, fragilidades. Coisas das quais você nem chegou perto de saber. Encontra-se a humanidade, o desejo de não ter que ser forte o tempo todo e até mesmo as lágrimas de quem parece ser incapaz de chorar.
Ao ter essa chave nas mãos a sensação é de que se tem tudo. E de certa forma, é isso mesmo o que se tem. O poder é imenso. Apesar da fachada continuar sendo a mesma, quem abriu a caixa já não a vê do mesmo modo. E mesmo parecendo impossível, quando se abre a Caixa de Pandora, se encanta ainda mais. Pois é...
Mas é claro que você não tem a menor ideia disso, pois há tempos você vem rodando e rodando, andando em círculo em volta da caixa, mas não consegue encontrar a chave. Se você tivesse encontrado, tanto pior pra você, pois hoje não haveria afirmação que você pudesse fazer, pois teria sido expulsa e então, não haveria mais nada a anunciar.
Foi por abrir a Caixa de Pandora que libertei o caos. Coloquei tudo em desordem. Baguncei a arrumação. Fui muito, mas muito mais longe do que qualquer outra pessoa. Sem precisar ser hacker, tive acesso às informações mais secretas. Cheguei tão longe, mas tão longe que passei do limite imposto. Abri, vasculhei, bisbilhotei, joguei tudo pro alto e finalmente me alojei ali.
até que o segurança me encontrou, tomando conta de todos os espaços dessa sala secreta. Ali não era o meu lugar, não é mesmo? Afinal de contas, quem eu pensava que era para estar ali ocupando o lugar que era de outra pessoa? Como é que eu podia saber mais, entender mais e importar mais do que os outros? Eu não era ninguém afinal.
Fui expulsa, desalojada de meu tão confortável lar. Atirada numa tempestade, que virou redemoinho, que virou furacão. E quando o vento passou e a água baixou, a minha chave tinha sumido. A Caixa de Pandora, depois de tanto empenho, estava fechada para mim. E tudo porque eu tive a imprudência - ou inocência - de achar que ela era minha. agora duvido que esta caixa seja aberta novamente tão rápido, pois marquei presença tão forte, que a segurança deve ter sido reforçada e a chave, muito bem escondida.
Não que eu queira despertar esperanças (pois essas já se foram há tempos), nem querendo ser prepotente ou me achar melhor do que ninguém, mas tenho pena de quem só vive na superfície, na certeza; de quem não escuta os apelos do próprio coração; de quem não se deixa levar, por medo de sair da linha; quem não se entrega a curiosidade de tentar e não se deixa envolver por aquilo que realmente deseja e não se entrega às emoções por medo de parecer fraco.
Podem me chamar de louca por achar isso. De insensata, de iludida, de inocente. Mas só vivendo o que eu vivi, sabendo o que eu sei e sentindo o que eu sinto para saber.
Cheguei muito além do que deveria. Ultrapassei até mesmo você, que é a certeza, que tanto afirma, tanto demostra e que agora, tanto precisa provar. É por não fazer sentido nenhum que tudo faz sentido. É por não ter razão nenhuma que foi esta a razão. Tenho pena de quem não consegue enxergar essa verdade. E se enxergar, nunca vai admitir. E mesmo que admita, agora é tarde demais.
O que conforta meu coração é saber que eu abri a Caixa de Pandora, libertei o caos que ali existia e fui punida. Mas valeu a pena, mesmo depois de tanto tempo, mesmo sendo tarde demais. Ao menos eu nunca precisei fingir e nem fugir dos meus sentimentos.
A gente só foge daquilo que não consegue enfrentar. Eu lutei contra os meus monstros. e você? Até quando vai continuar fugindo dos seus?

Esse seu jeito inocente não funciona na minha frente (...)
Me espanto com a sua atuação nada comovente (...)
De que adianta só ter voz, com ausência de atitude?
Esse caminho não é pros fracos, junte os trapos e se mude (...)
Vai se queimando sozinho (...)
(Karol Conká - Me Garanto)
P.S: não gosto de rap mas parte dessa letra veio a calhar!


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